Rosto de carioca de 2 mil anos atrás é reconstituído com participação de professor da SLMANDIC
Faculdade São Leopoldo Mandic e Museu Nacional apresentam reconstrução digital da face de esqueleto encontrado em sítio arqueológico no Rio de Janeiro. Individuo foi batizado de Ernesto de Guaratiba
A reconstrução digital da face de um homem que viveu em terras cariocas há cerca de dois mil anos foi apresentada hoje (22) por pesquisadores do Setor de Antropologia Biológica do Museu Nacional/UFRJ e da Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic, no Rio de Janeiro.
“O projeto contribui para que haja um contato maior entre a população atual do Rio de Janeiro com os habitantes que viviam há dois mil anos atrás em terras cariocas”, conta Paulo Miamoto, professor das Disciplinas de Odontologia Legal e Anatomia da Faculdade São Leopoldo Mandic e responsável pela parte tecnológica da reconstrução facial.
O trabalho foi realizado a partir de um esqueleto em bom estado de preservação encontrado por arqueólogos do Museu Nacional, na década de 1980, em escavações no sítio Sambaqui do Zé Espinho, localizado na região de Guaratiba, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
Além da aproximação facial foi realizado um estudo osteobiográfico detalhando alguns aspectos sobre quem era e como viveu este indivíduo. Tal estudo consiste na reconstrução das características como sexo, idade e estatura, assim como obter algumas informações sobre doenças e atividades físicas.
O estudo anatômico do crânio permite estimar a posição e aspecto das estruturas da face, como os músculos, olhos e nariz. A técnica de aproximação facial consiste em basear-se nestas informações para que seja produzida uma imagem compatível com a aparência em vida do indivíduo.
“Para reproduzirmos o rosto foi feita uma réplica virtual do crânio a partir de fotografias com câmera digital. As imagens foram processadas obtendo o crânio 3D. Estruturas anatômicas foram modeladas virtualmente e por fim recobertas com uma camada de pele que se adapta sobre o conjunto, respeitando a interação entre as partes ósseas e moles. O processo termina com o acabamento, que adiciona detalhes à face, como marcas de expressão, cabelos e iluminação”, explica Miamoto, da Faculdade São Leopoldo Mandic.
Não há nenhuma relação direta entre o indivíduo escavado no sítio Zé Espinho e a Luzia. Ambos os remanescentes esqueléticos estão associados à ocupação anterior a chegada dos Portugueses no Brasil e fazem parte do acervo do Museu Nacional. A Luzia foi encontrada na região de Lagoa Santa, Minas Gerais, e teria vivido por volta de onze mil anos atrás. Já o indivíduo do Zé Espinho, além de ter vivido na região da cidade do Rio de Janeiro, a datação que temos dele seria por volta de dois mil anos antes do presente, ou seja, ele viveu alguns milhares de anos depois da Luzia, em uma região diferente.
Batizado de Ernesto de Guaratiba, o nome é uma homenagem à localidade do sítio arqueológico e a Ernesto Salles Cunha, docente de Odontologia da Universidade Federal Fluminense que dedicou grande parte de seus estudos a paleopatologia dos sítios de sambaqui do litoral brasileiro. A nomeação foi decidida em uma votação aberta com alunos matriculados no curso de Fundamentos de Aproximação Facial, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu Nacional.
Professor da SLMANDIC realiza treinamento em tecnologia 3D e reconstrução facial forense
Entre os dias 31 de maio e 03 de junho de 2017, o docente das Disciplinas de Odontologia Legal e Anatomia da SLMANDIC, Prof. Paulo Miamoto, ministrou em São Luís (MA), treinamentos para profissionais de segurança pública no Instituto Médico Legal (IML) e no Instituto de Criminalística (ICRIM) do Estado do Maranhão.
A convite da Academia Integrada de Segurança Pública (AISP), as atividades envolveram peritos da capital e do interior, e trataram de tecnologias 3D de acesso aberto aplicadas a contextos forenses. Em palestra e demonstração aos peritos criminais do ICRIM, foram discutidas formas de digitalização por fotografias, inclusive com a simulação da digitalização de um local de crime fictício por fotos tiradas com um telefone celular.
Em um treinamento de imersão, uma turma formada por cirurgiões-dentistas, médicos e peritos criminais recebeu capacitação em reconstrução facial forense com software livre. Esta técnica é indicada para auxiliar as perícias de identificação de ossadas não reclamadas, por meio da divulgação de uma imagem facial cientificamente composta a partir do estudo forense dos ossos, na esperança de que um reconhecimento traga mais informações sobre uma investigação.
“A cooperação entre a Faculdade e os Institutos é importante para que a pesquisa possa dar apoio às perícias, garantindo à Sociedade a robustez científica nas respostas dadas pela Justiça”, avalia o docente. “Apesar de possuírem um alto potencial em ciências forenses, as ferramentas de tecnologia 3D somente poderão ser implementadas se sua apresentação for adequada à realidade dos IMLs e ICRIMs brasileiros, onde não raro há pouco investimento em equipamentos avançados e recursos digitais. Por isto, enxergamos no software aberto o instrumento que pode transpor esta barreira de maneira imediata, e fortalecer o trabalho dos peritos”, explica Miamoto.
Para o cirurgião-dentista Dr. Frederico Mamede, Diretor do Serviço de Tanatologia do IML, o oferecimento do curso traz uma oportunidade de maior integração entre os próprios peritos criminais, médicos legistas e odontolegistas. “Como a ferramenta de digitalização é de acesso aberto, poderíamos enriquecer as informações sobre locais de encontro de ossadas com o simples compartilhamento de fotografias que sejam posteriormente digitalizadas. Esta informação pode ser o diferencial para o esclarecimento de um caso”.
Tecnologias são parte do ensino na Faculdade, desde graduação a pós-graduação
As técnicas de digitalização 3D e reconstrução facial forense já são oferecidas na Faculdade São Leopoldo Mandic, em forma de aulas teóricas e práticas, para a disciplina de Odontologia Legal do curso de graduação, assim como serão transmitidas de modo aprofundado aos estudantes do curso de Especialização em Odontologia Legal, que conta com inscrições abertas e início em agosto/2017.