Aluna da SLMANDIC cria porta-escovas coletivos para diminuir a contaminação das escovas de dente em creches de Bacabal (MA)
A escova de dente é um instrumento essencial para manter a higiene bucal. Porém, ela pode se transformar em um verdadeiro depósito de microrganismos capaz de transmitir inúmeras doenças, caso não seja acondicionada da forma correta. Pesquisas já revelaram que é possível encontrar cerca de 900 espécies de bactérias na boca, que podem viver por até 24 horas entre as cerdas das escovas.
Para investigar como as escovas de dente são acondicionadas e a sua contaminação em pré-escolas do município de Bacabal, no Maranhão, a cirurgiã-dentista, Maria Tereza Freire Carvalho, visitou as escolas públicas de ensino infantil, avaliou a forma de acondicionamento das escovas e realizou a análise microbiológica de 55 escovas acondicionadas pelos professores.
O estudo constatou que houve crescimento de microrganismos em 36 escovas, e 89% das escolas avaliadas guardavam as escovas das crianças de forma inadequada. “Em geral, as creches colocam as escovas todas juntas em um mesmo recipiente”, conta a dentista.
A partir dessa pesquisa, que foi o projeto de mestrado de Maria Tereza, desenvolvido na Faculdade São Leopoldo Mandic, a pesquisadora sentiu a necessidade de ajudar as pré-escolas de Bacabal a melhorar a forma como guardam as escovas das crianças. “Senti que eu precisava levar os resultados da pesquisa para as escolas, alertando sobre a contaminação cruzada das escovas e, ao mesmo tempo, oferecendo uma solução”.
Foi por isso que, durante o doutorado em Ciências Odontológicas e Odontopediatria, também na SLMANDIC, Maria Tereza desenvolveu o projeto “Oficinas de porta-escovas dentais coletivos em espaços escolares”. Ela criou três modelos de porta-escovas com materiais de descarte doméstico – garrafas PET e tampinhas de garrafas –, com o objetivo de atender as características ideais de acondicionamento de escovas em ambiente coletivo, além de diminuir a contaminação cruzada das escovas de dente.
Para transmitir esse conhecimento, foram oferecidas palestras e oficinas para 98 professores de 18 pré-escolas do município de Bacabal, em parceria com o Programa Saúde na Escola, do Ministério da Saúde. Essas atividades incentivaram a criação de novos hábitos e a mudança de comportamento dos professores com relação à saúde bucal das crianças. “É uma solução simples, barata e que funciona”, conclui a aluna. Ela conta que as escolas aderiram ao projeto, construíram seus próprios porta-escovas e estão até colocando a logomarca da escola neles.
Aprender brincando – Essa proposta foi baseada na lógica do projeto “Aprender brincando sobre saúde com sustentabilidade para crianças”, da São Leopoldo Mandic. “Esse trabalho é importante porque leva para a área da educação a conscientização sobre a saúde bucal das crianças. É responsabilidade da educação básica educar e cuidar”, enfatiza a Dr.a Flávia Martão Flório, professora da disciplina de Saúde Coletiva da Odontologia da SLMANDIC, e orientadora do mestrado de Maria Tereza.
Junto com a professora Almenara de Souza Fonseca Silva, Flávia coordena o “Aprender brincando”, que ensina profissionais da educação a criar e usar ecobjetos e ecojogos com materiais de descarte doméstico para falar sobre saúde. Com esses materiais fica mais fácil ensinar as crianças sobre os cuidados com a saúde e também falar sobre a higiene bucal. “Nas escolas de Bacabal, os porta-escovas foram feitos com materiais de descarte doméstico, sem custo e que podem ser lavados. Algo simples de ser aplicado”, comenta Flávia.
Estudo realizado na SLMANDIC relaciona síndrome metabólica e doença periodontal em pacientes obesos
A obesidade é uma doença metabólica que está associada a várias doenças sistêmicas – como diabetes mellitus, hipertensão arterial, hiperlipidemia -, que, quando aparecem juntas em um mesmo paciente, configuram uma síndrome denominada de Síndrome Metabólica. Diversos estudos relacionam essa síndrome à doença periodontal, uma patologia inflamatória e infecciosa que afeta os tecidos que suportam os dentes e que pode causar a sua destruição. Pessoas que possuem a Síndrome Metabólica teriam uma condição inflamatória generalizada que as tornariam mais susceptíveis a doenças, destacando-se a periodontal.
Para avaliar a prevalência de doença periodontal em pacientes com Síndrome Metabólica, a aluna de mestrado Mayra Sabiá de Moura, da Faculdade São Leopoldo Mandic, desenvolveu a pesquisa “Prevalência da Doença Periodontal em Pacientes Portadores de Síndrome Metabólica e Candidatos à Cirurgia Bariátrica”, sob supervisão do professor Doutor Lucas Novaes Teixeira. O estudo foi realizado em parceria com o Núcleo do Obeso do Ceará, em Fortaleza, onde Mayra participa da rotina pré-operatória.
Para o estudo, foram selecionados 34 pacientes – homens e mulheres, entre 16 e 60 anos de idade – que aguardavam pela cirurgia bariátrica. Os pacientes foram divididos em dois grupos: Grupo Teste, composto por pacientes portadores da Síndrome Metabólica, e Grupo Controle, com pacientes não portadores da Síndrome Metabólica. Os pacientes de ambos os grupos passaram por uma série de exames para avaliar suas condições clínicas de saúde.
A pesquisa constatou que a doença periodontal está mais presente em pacientes portadores de Síndrome Metabólica. “Isso sugere que deve ser feito o tratamento desses pacientes para controlar a infecção anterior à cirurgia bariátrica”, enfatiza Moura. “Meu objetivo era estabelecer um protocolo de atendimento que promovesse controle odontológico. Observei condições relevantes na relação doença periodontal versus Síndrome Metabólica e resolvi investigar essa prevalência”.
Para Moura, é preciso cuidar desses pacientes e reduzir os danos causados pela evolução da doença periodontal. “A pesquisa mostra a importância da presença de um dentista em equipes multidisciplinares, para promover o controle de doenças bucais relacionadas às alterações sistêmicas, muitas vezes desconhecidas pelos pacientes e negligenciadas pelos médicos”.
Segundo o orientador da pesquisa, professor Doutor Lucas Novaes Teixeira, os estudos de prevalência, como o que foi realizado pela São Leopoldo Mandic, são importantes ferramentas para o planejamento de saúde pública. “No estudo, os resultados indicaram associação entre doença periodontal e Síndrome Metabólica, fato que reforça a necessidade do estabelecimento de medidas preventivas pré-operatórias de saúde periodontal em pacientes portadores da Síndrome Metabólica que serão submetidos à cirurgia bariátrica.”
Estudo aponta aumento na mortalidade geral associada ao chikungunya
Pesquisa de Prof. Dr. da Faculdade São Leopoldo Mandic avaliou dados de PE, RN e BA, estados brasileiros com maiores taxas de incidência do vírus
Um estudo feito pelo professor Dr. André Ricardo Ribas Freitas, médico epidemiologista da Faculdade São Leopoldo Mandic, recém divulgado na PLOS Currents, publicação focada em analises científicas, aponta um aumento significativo na mortalidade geral associada ao chikungunya (CHIKV), durante a epidemia do vírus, entre os anos 2015 e 2016, nos estados brasileiros do Nordeste. Considerando apenas Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte, foram 7501 óbitos. A pesquisa mostra que não houve um número de mortes semelhante nos anos anteriores, mesmo no período do surto da dengue. As faixas etárias mais afetadas foram de bebês e idosos.
O estudo foi baseado em dados disponíveis no Ministério da Saúde e avaliou as mortes associada ao vírus nos três estados brasileiros, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Bahia, com maiores taxas de incidência da enfermidade.
Para avaliar o possível efeito do vírus sobre a mortalidade das causas, foram comparados os números de mortes estimadas para a população atual com a observada durante o grande aumento de chikungunya de 2015 e 2016. Dada a falta de dados prévios da circulação sobre o tema nas regiões estudadas, é arbitrariamente considerado como início da epidemia no primeiro de pelo menos dois meses consecutivos com taxas de incidência superiores a 50 casos por 100 mil habitantes; e para o fim do tempo epidêmico é definido como taxa de incidência inferior a 50 por 100 mil por dois meses consecutivos para todas as regiões estudadas. Foi traçado a taxa de incidência de dengue no mesmo período em todas as regiões estudadas para comparação.
Resultados
“Um fato que deve ser destacado é que a letalidade causada pelo chikungunya é muito maior do que a causada pela dengue. Identificamos um aumento significativo na taxa de mortalidade de todas as causas durante o surto do vírus, enquanto não houve um número semelhante nos anos anteriores, mesmo na época da epidemia de dengue. Estimamos um excesso de 4.505 mortes em Pernambuco nos surtos da doença (47,9 por 100.000 pessoas)”, afirma o Prof. Dr. André Ricardo Ribas Freitas, da Faculdade São Leopoldo Mandic.
Usando os critérios de epidemias, foi possível identificar aumento em casos de chikungunya de em: Pernambuco (janeiro a abril de 2016), Rio Grande do Norte (fevereiro a junho de 2016), Centro-Norte da Bahia (fevereiro a março de 2016), nordeste da Bahia (Janeiro-março de 2016), Norte da Bahia (setembro de 2015 – abril de 2016), sul da Bahia (janeiro a abril de 2016); e duas ondas surgem em: Centro-leste da Bahia (primeiro março a julho de 2015 e segunda fevereiro a março de 2016). Utilizando os mesmos critérios, nenhuma epidemia foi confirmada em outras regiões da Bahia.
As descobertas informam que durante os surtos de CHIKV houve um aumento da mortalidade de todas as causas em todas as regiões analisadas, quase simultaneamente com o pico de epidemias. As taxas de letalidade excessiva foram maiores nas quatro regiões com a maior taxa de incidência dos casos da doença. Nos estados de Pernambuco, Sul-Bahia e Rio Grande do Norte, a incidência de dengue foi alta em 2015 e 2016. Em Pernambuco, a maior incidência de dengue ocorreu em 2015, ano em que não houve excesso de mortes.
Sobre a doença
O Chikungunya (CHIKV) é um RNA vírus da família Togaviridae do gênero Alphavirus, descrito pela primeira vez em 1950 na região que hoje corresponde à Tanzânia durante um surto atribuído inicialmente ao vírus Dengue.
A Chikungunya se caracteriza por quadros de febre associados à dor articular intensa e debilitante, cefaleia e mialgia. Embora possua sintomas semelhantes ao da dengue, chama a atenção a poliartrite/artralgia simétrica (principalmente punhos, tornozelos e cotovelos), que, em geral, melhora após 10 dias, mas que pode durar meses após o quadro febril.
O nome Chikungunya significa “aquele que se curva” na língua Makonde, falada em várias regiões da África Oriental, razão da posição antálgica que os pacientes adquiriam durante o período de doença. Embora quadros severos não sejam comuns e não ocorram choque ou hemorragias importantes como na dengue, manifestações neurológicas (encefalite, meningoencefalite, mielite, síndrome Guillain Barré), cutâneas bolhosas e miocardite podem trazer gravidade aos casos; principalmente, em bebês e idosos.
André Ribas Freitas é mestre em clínica médica e professor de Epidemiologia no curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic. É também médico do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas, sendo coordenador do Programa Municipal de Controle de Arboviroses.