Acadêmicos da Faculdade São Leopoldo Mandic de Campinas apresentam efeitos sobre o uso da Sinvastatina, que pode ser utilizada no tratamento de condições inflamatórias gengivais que resultam em destruição óssea

 Um estudo aponta que a sinvastatina, substância muito utilizada nas duas últimas décadas para a redução dos níveis altos de colesterol sanguíneo, principal fator de risco das doenças do coração, pode acelerar a cicatrização do tecido ósseo. A substância combina a redução da perda óssea com a proteção cardiovascular, em contraste com alguns anti-inflamatórios que têm sido associados com o aumento do risco cardiovascular.

O estudo foi apresentado como tese para a Pós-Graduação da Faculdade São Leopoldo Mandic de Campinas, para obtenção do título de Doutor em Ciências Odontológicas, pelo aluno José Carlos Elias Mouchrek Júnior, sob a orientação da Prof. Dra. Elizabeth Ferreira Martinez, também pesquisadora da Instituição.

“Esse estudo é de extrema importância já que na odontologia, especialmente na periodontia, um dos maiores problemas é a perda óssea associada à periodontite. Sendo assim, uma droga rotineiramente utilizada para tratamento de colesterol pode estar associada à doença periodontal, traz novos rumos na busca pela reabilitação completa da saúde bucal do paciente. Estamos muitos animados com essa nova possibilidade”, afirma Elizabeth Ferreira Martinez, Docente Pesquisadora no Instituto e Centro de Pesquisas São Leopoldo Mandic, vinculado à Pós-Graduação e Graduação dos Cursos de Odontologia e Medicina.

A sinvastatina é uma estatina que pode produzir uma série de efeitos benéficos tanto para região dentária, como na redução da hipercolesterolemia (elevação da taxa de colesterol no sangue), redução da inflamação sistêmica, estabilização de placas ateroscleróticas (doença vascular crônica), inibição da síntese de algumas moléculas solúveis responsáveis em mediar a inflamação e ação no tecido ósseo.

Assim, as estatinas, incluindo a sinvastatina, podem ter significativos efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, efeitos na proliferação e diferenciação de células envolvidas com a formação de tecido ósseo, conhecidas como osteoblástos e na inibição das células responsáveis por sua reabsorção (osteoclastos), que poderiam ser benéficos no tratamento da periodontite.

“Tendo como alvo o ganho ósseo envolvido nos tratamentos da cavidade bucal, este estudo preliminar pode ter uma importância, por exemplo, no tratamento complementar da doença periodontal. Diferentemente dos estudos já apresentados, este objetivou a avaliação da sinvastatina, em um modelo in vivo de doença periodontal, especialmente avaliando alguns mediadores pró e anti-inflamatórios envolvidos na modulação da resposta óssea”, conta José Carlos Elias Mouchrek Júnior, especialista em Periodontia pela Faculdade São Leopoldo Mandic.

 

O estudo                            

O estudo foi realizado em uma pesquisa sobre a periodontite, doença inflamatória multifatorial caracterizada pela perda do tecido conjuntivo e perda do osso alveolar. Para este experimento, foram utilizados ratos da linhagem Wistar e a periodontite foi induzida por ligadura ao redor do primeiro molar inferior direito. Em um grupo de ratos, foi administrada sistemicamente a sinvastatina. Após 14 dias de tratamento, os animais foram eutanasiados por aprofundamento de anestesia e o tecido gengival removido e homogeneizado em tampão apropriado. As mandíbulas foram removidas e coradas para avaliação da perda óssea induzida.

 

Resultados

Além de seus efeitos já conhecidos na redução dos níveis elevados de colesterol, a sinvastatina pode provocar alguns outros efeitos, acelerando a cicatrização do tecido ósseo. A pesquisa verificou a ação da substância na modulação de mediadores inflamatórios envolvidos com a neoformação óssea, demonstrando que houve aumento de um mediador anti-inflamatório e diminuição dos níveis de um mediador inflamatório, salientando, dessa forma, que a sinvastatina pode ser útil no tratamento de condições inflamatórias gengivais nas quais poderá ocorrer reabsorção óssea.

Sobre a doença

A periodontite é uma doença inflamatória dos tecidos de suporte dentário, que leva à destruição óssea e à perda dental. Atualmente se sabe que os danos teciduais subjacentes observados nesta doença resultam de uma resposta imune excessiva a patógenos subgengivais.

Elizabeth Ferreira Martinez é graduada em Odontologia (1999), mestre em Patologia Bucal (2002) e doutora em Ciências, Biologia Celular e Tecidual pela Universidade de São Paulo, USP (2008). Fez pós-doutorado na Faculdade São Leopoldo Mandic, SLMANDIC (2011). Atualmente é Docente Pesquisadora no Instituto e Centro de Pesquisas São Leopoldo Mandic, vinculado à Pós-Graduação e Graduação dos Cursos de Odontologia e Medicina. Tem experiência na área de pesquisa em Biologia Oral com ênfase em processos celulares e moleculares, associados ao estudo de fármacos e biomateriais, especialmente aplicados à implantodontia e biologia óssea, além de conhecimento no estudo in vitro da tumorigênse de glândulas salivares. Possui 70 artigos científicos publicados em revistas de seletiva qualidade editorial.